Em 1960, os norte-americanos tinham a expectativa de vida mais alta do mundo. Era 2,4 anos maior do que a média dos países da OCDE. Fazem parte dessa organização a Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Coreia do sul, Israel, Japão, Holanda, Noruega, Estados Unidos, Suécia e outros países ditos “desenvolvidos”.
A partir dos anos 1980, a diferença começou a diminuir. Em 1998, a expectativa de vida americana foi superada pela média dos países da OCDE. Hoje, ela é um ano e meio mais baixa: 78,7 ante 80,3 anos. Em 2013, pesquisadores do Institute of Medicine procuraram entender as razões pelas quais o país levava desvantagem crescente.
Verificaram que, em relação aos habitantes da OCDE, os americanos apresentavam maior número de homicídios, traumas, gravidez na adolescência, mortes por parto, HIV/Aids, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Contribuíam para a piora relativa dos indicadores de saúde hábitos e comportamentos ligados ao estilo de vida da população: dieta hipercalórica, consumo de drogas psicoativas, centros urbanos que privilegiam o automóvel em detrimento das bicicletas e de andar a pé, serviços de saúde inacessíveis aos mais pobres, laços sociais e comunitários frouxos.
Graças à disseminação do abuso de opioides, o número de óbitos por overdose aumentou 137%, no período de 2000 a 2014. Apenas no ano de 2015, ocorreram 64 mil dessas mortes (cinco a mais do que as ocorridas na Guerra do Vietnã).
A epidemia de opioides é a parte mais visível dos dramas que afligem a classe média dos EUA. Ela esconde o aumento das mortes por alcoolismo e suicídio, chagas sociais que afetam principalmente homens brancos de 25 a 59 anos e as mulheres.
Além disso, nos últimos anos, a performance educacional dos americanos decaiu, a desigualdade social aumentou, os salários da classe média estagnaram e os índices de pobreza aumentaram em relação aos demais países industrializados. O “sonho americano”, que animou gerações anteriores, está cada vez mais distante.
A mobilidade social dos jovens já não é aquela dos tempos de seus pais. A continuar assim, a geração atual viverá menos do que a anterior. Os Estados Unidos são, de longe, o país que pratica a medicina mais cara do mundo e o que mais gasta em assistência médica: 17% do PIB.
Como, em 2016, o PIB americano foi de 18,75 trilhões de dólares, eles investiram somente nesse ano cerca de 3,1 trilhões de dólares, quantia que corresponde a quase duas vezes o PIB brasileiro. Tanto dinheiro para resultados tão pífios.
Nós, muito mais pobres e com problemas político-administrativos gravíssimos, chegamos a 75,8 anos de expectativa – ante os 78,7 deles – no mesmo ano. O exemplo dos Estados Unidos deixa claro que recursos financeiros são condição necessária para o bom funcionamento do sistema de saúde, mas não é suficiente.
Autor: https://www.cartacapital.com.br/revista/991/o-american-way-of-life-faz-bem-para-a-saude