Mas existe um paradoxo importante, sabemos que doenças psiquiátricas descompensadas aumentam o risco de suicídio e tentativas de suicídio, contudo também sabemos que as pessoas têm muito receio em procurar um médico psiquiatra. Aqui, nesse momento, me pego a pensar quantas vezes o cuidado com a saúde mental foi tratado por meus professores quando eu ainda estava na escola.
Será que professores conseguem identificar um aluno adolescente que mudou seu comportamento, que anda isolado, triste, desanimado e impaciente, com queda do rendimento escolar, e sugerir avaliação com a psiquiatria? O preconceito e a fantasia são derrotados pelo conhecimento, portanto deveríamos discutir no ambiente escolar e familiar a importância da preservação da saúde mental, até para podermos reconhecer precocemente alguém que possa estar adoecendo e ajudá-lo.
Sempre que a mudança do comportamento está acarretando sofrimento emocional significativo, prejuízo social, funcional, acadêmico ou laboral, ela deve ser valorizada. Se um padrão de comportamento faz o indivíduo sofrer ou faz sofrer quem convive com ele, há, aí, algo que precisa ser investigado. As doenças psiquiátricas são muito mais comuns ao longo da vida do que imaginamos e não ocorrem por fraqueza, preguiça ou falta de vontade.
Que o setembro amarelo nos leve a entender que cuidar da nossa saúde mental é algo sério e importante, que possamos ir ao psiquiatra com a mesma tranquilidade que vamos ao clínico ou ao cardiologista, que o acesso aos profissionais especialistas em saúde mental seja amplo, fácil e livre de preconceito.
*Possui graduação em Medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Doutor em Medicina e Saúde Humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Professor de Psiquiatria da UFBA e Diretor Geral do Hospital Juliano Moreira.